sábado, 31 de dezembro de 2011

sea of love

Eu não acredito muito em superstições, principalmente essas de final de ano. Estou falando isso agora, obviamente, por esse ano ter chegado ao fim. Não acredito nos rituais, no pular das ondas... No branco. Vestia mais como uma tradição. Mas tanto faz. A virada do ano passado para esse ano talvez tenha me feito repensar em toda essa ritualidade. A verdade é que eu passei o meu último réveillon sozinho, num quarto de hotel, em Portugal. O barulho explosivo dos fogos de artifício me apertou como nunca. Na realidade, na hora, naquele quarto solitário, a tristeza não me apertou tanto assim. Foi mais uma sensação a longo prazo. Algo que, eventualmente, não poderia evitar sentir. E não evitei mesmo. Durante o ano inteiro esse sentimento, essa sensação me acompanhou. Ao entrar na escola, ao subir os degraus de três ou quatro lances de escada todos os dias, ao voltar para casa e descer a insuportavelmente calorosa avenida São João... Ao me deitar, ao acordar, ao sonhar. Foi como se o sentimento triste e agonizante da virada do ano me acompanhasse durante o passar do ano. E por completo. Acredito que não houve um momento que pude me iludir e de alguma forma chegar a pensar que estava feliz. Bom, talvez estivesse feliz quando chapado. “Feliz”. 2011, foi definitivamente o pior ano da minha vida até agora. Dá até medo de escrever isso, parece que outros anos vão seguir o mesmo modelo. Não sei direito se cheguei a dar uma risada sincera durante o ano inteiro. Se dei, posso contar nos dedos, literalmente. Porque mais de dez seriam muitas. O que eu quero dizer é que independente da roupa que você usa nessa comemoração, independente de você pular uma onda ou não, eu acho que de alguma forma o que você sente se reflete durante o outros 364 ou 365 dias do ano. Sei lá, seria muita coincidência, não? É como se o sentimento que sentia naquele quarto de hotel tenha se prendido no ar, nas flores, na água, na minha visão. É como se eu não conseguisse, mesmo que com esforço, sentir coisa diferente. Foi um ano terrível. A melancolia não cessava nem por um segundo, ela estava lá, aparente ou não, maquiada ou não, disfarçada ou não, alterada ou não: ela estava lá. Eu sabia que sim. Já pensei na possibilidade de ser o remédio que tomava para as espinhas, tinha como efeito colateral a depressão. Mas já parei de tomar e o sentimento continua. Não, ‘pera aí! Não é o remédio, me sinto assim muito antes de começar a tomá-lo. Na verdade, antes mesmo do ano novo solitário em Portugal, eu já me sentia assim. Só que menos agravado... sabe? Eu sei que sim. Tá tudo tão estranho agora. Pelo menos eu parei de fumar maconha depois de certos ocorridos. Achei que ia morrer um dia. E eu tive medo. Muito medo. Não queria que fosse naquela hora, naquele dia. Não queria ir. Definitivamente eu não queria partir. Mas os dias se passaram e eu voltei a pensar na morte e eu começava a chorar quase que instantaneamente. (Quando eu choro eu sinto cheiro de chocolate!!) Ninguém foge da morte, é o nosso destino. Minha mãe, meu pai, meus irmãos... Todos vão morrer. Eu também. Só que dói pensar nisso. Dói demais. E eu já estou sentindo cheiro de chocolate. Por fim (acho que baguncei um pouco meus pensamentos mas achei esse o momento perfeito para falar tudo de uma vez), o que eu quero dizer é que se a gente se prende em alguma coisa, principalmente numa data cheia de expectativas como essa, a gente acaba vivendo nela. Por isso, é quase certeza que o ano que vem vai ser, senão pior, o mesmo que esse. Pois estou preso nessa tristeza. E o ano vai passar. E o sentimento vai ficar. E os fogos de artifício vão estourar dentro de mim; vão aumentar meu vazio. Estou preparado para essa maldição do ano novo... Eu só queria que fosse diferente. Que mudasse. Que um milagre nos 45 do segundo tempo acontecesse. Uma coisa que mudasse tudo. Não sei... Acho que não. Pelo menos não aqui, nesse momento, na minha cama, ouvindo sea of love, stuck on repeat, da cat power, cantora que fui no show e sinceramente quase morri com aquele vibe tão down. Mas... Veja só.